Abrir e fechar a geladeira toda hora faz mal? Entenda os riscos reais — Foto: Reprodução/Freepik
Comportamentos aparentemente inofensivos, como abrir a porta várias vezes podem custar caro. Entenda os riscos e saiba como evitá-los
Entender se abrir a porta da geladeira toda hora faz mal certamente desperta a curiosidade de quem sempre ouviu a frase “fecha a porta da geladeira!”! Essa orientação popular, passada de geração em geração, levanta uma dúvida importante: será que abrir a geladeira com frequência realmente prejudica o desempenho do eletrodoméstico? A abertura constante afeta o consumo de energia e a conservação dos alimentos? Essas são questões relevantes, pois envolvem um aparelho essencial no dia a dia das famílias e com consumo considerável de energia elétrica.
Para esclarecer essas dúvidas, o TechTudo preparou um guia especial explicando como o comportamento do usuário pode afetar o funcionamento da geladeira. Nesta reportagem, serão desvendados alguns mitos e apresentadas orientações que podem auxiliar na otimização do uso do eletrodoméstico, tanto no que diz respeito à preservação dos alimentos quanto à economia na conta de luz. Veja, a seguir, mais detalhes sobre o assunto.
Nesse guia, você vai encontrar os seguintes tópicos:
- Abrir a geladeira muitas vezes aumenta o consumo de energia?
- O que acontece com a temperatura interna a cada abertura?
- Abrir e fechar várias vezes pode danificar o motor ou o termostato?
- Isso pode prejudicar a conservação dos alimentos?
- Existe um “tempo crítico” com a porta aberta?
- Modelos mais modernos são menos sensíveis a essas variações?
- Dicas para organizar a geladeira e evitar abri-la à toa
Abrir a geladeira muitas vezes aumenta o consumo de energia?
A resposta para essa pergunta é sim. Aberturas frequentes da geladeira aumentam o consumo de energia elétrica, já que essa atitude permite a entrada do ar quente no interior do eletrodoméstico, fazendo com que o compressor (motor da geladeira) precise trabalhar mais e por um tempo maior para restabelecer a temperatura interna selecionada no termostato. Esse esforço adicional, quando ocorre várias vezes ao dia, faz o consumo de energia ser maior.
Um estudo publicado na Revista de Ciências Aplicadas identificou que o abre e fecha da geladeira pode resultar em um aumento de até 40% no consumo de energia em comparação com uma geladeira com poucas aberturas de porta. Na conta de luz, isso pode resultar em um consumo extra de cerca de 3kWh/dia, o que pode representar um gasto adicional entre R$ 30 e R$ 40 por mês, dependendo da tarifa da concessionária de energia.
O que acontece com a temperatura interna a cada abertura?
A cada abertura da porta, há uma troca de calor entre o interior da geladeira e o ambiente externo. O ar quente entra e expulsa o ar frio para fora. Isso aumenta temporariamente a temperatura dentro da geladeira, forçando o sistema de refrigeração a trabalhar mais para restaurar a temperatura selecionada novamente.
Esse processo não só aumenta o consumo de energia, mas também pode afetar a eficiência do aparelho ao longo do tempo, já que quanto maior for o período com a temperatura acima do ideal, maior a intensidade do trabalho com o compressor. Quanto maior a entrada de calor, mais intenso e demorado será esse ciclo, elevado o gasto de energia elétrica e prejudicando a conservação de produtos perecíveis.
Abrir e fechar várias vezes pode danificar o motor ou o termostato?
Embora as geladeiras modernas sejam projetadas para suportar a variação nos ciclos de funcionamento do compressor, abrir e fechar a porta várias vezes pode gerar um desgaste maior nos componentes no longo prazo. O motor e o termostato são os principais afetados neste caso, especialmente se houver aberturas excessivas e por longos períodos em condições de temperatura externa extrema.
Em condições climáticas normais, ou seja, com a temperatura ambiente entre 15ºC e 30ºC, é pouco provável a ocorrência de danos graves em componentes internos com o abre e fecha da geladeira, já que os modelos mais recentes possuem tecnologias de proteção para evitar danos graves por uso excessivo.
Agora, se o modelo da geladeira for mais antigo, esse tipo de ocorrência pode acontecer com maior frequência, já que o compressor pode operar sob estresse mecânico e térmico, o que reduz a sua vida útil. Já o termostato pode apresentar instabilidades e ficar descalibrado por conta da variação constante da temperatura, comprometendo a precisão e eficiência da peça.
Isso pode prejudicar a conservação dos alimentos?
Em casa, o abre e fecha da geladeira pode prejudicar a conservação dos alimentos, principalmente aqueles mais sensíveis como laticínios, ovos, produtos in natura, frutas, verduras e sobras de comida. A exposição frequente ao calor contribui para a elevação da temperatura interna, o que pode acelerar o processo de deterioração e aumentar o risco de proliferação de bactérias e fungos. O contato com esses microrganismos pode alterar o sabor e textura dos alimentos e, em muitos casos, torná-los impróprios para o consumo.
Já no caso de uma geladeira comercial, como aquelas utilizadas em supermercados, padarias, restaurantes e lojas de conveniência, a situação é diferente. Tanto os refrigeradores abertos quanto os fechados foram projetados para ter um maior contato com o calor externo. No caso dos modelos com porta, eles podem suportar entre 30 e 60 aberturas por hora, dependendo da tecnologia utilizada, sem comprometer a preservação dos alimentos perecíveis.
O que pode prejudicar a conservação é um hábito inadequado, mas ainda muito presente em alguns estabelecimentos comerciais: desligar as geladeiras no período noturno para economizar energia. Além de afetar a qualidade dos alimentos, essa prática, em vez de economizar, aumenta a conta de luz, pois provoca a formação excessiva de gelo e obriga o compressor a trabalhar mais intensamente ao ser religado.
Existe um “tempo crítico” com a porta aberta?
Tecnicamente não existe um “tempo crítico” ou ideal de abertura de porta da geladeira. Na prática, quanto mais tempo ela permanece aberta, maior é a entrada de ar quente e a variação da temperatura interna. Deixar a porta aberta por apenas alguns segundos, por exemplo, para pegar um item rapidamente, tem um impacto menor do que manter a porta aberta por vários minutos enquanto o usuário decide o que vai pegar ou guardar as compras.
Entretanto, é importante observar que várias aberturas curtas ao longo do dia podem ser mais prejudiciais do que uma única abertura mais longa, planejada e concentrada em períodos específicos. Por exemplo, em termos de consumo de energia e conservação de alimentos, uma abertura de porta com duração de 60 segundos é mais eficiente do que 10 aberturas de seis segundos. Isso ocorre porque, a cada abertura, por menor que seja, há troca de calor com o ambiente externo, o que obriga o compressor a funcionar com mais frequência e intensidade.
Ou seja, mesmo que o tempo de exposição ao calor seja o mesmo, as aberturas curtas para retirar ou colocar um item de cada vez vai exigir mais do motor da geladeira. Por isso, retirar ou guardar vários itens de uma só vez, é uma estratégia mais eficiente tanto para conservar os alimentos quanto para economizar eletricidade.
Modelos mais modernos são menos sensíveis a essas variações?
Sim, os modelos mais modernos de geladeiras são, em geral, menos sensíveis a essas variações do que os aparelhos mais antigos. As inovações tecnológicas, como o Inverter, sensores de temperatura ou aperfeiçoamento do isolamento térmico, trouxeram diversas melhorias que ajudam a evitar grandes oscilações da temperatura interna da geladeira.
A tecnologia Inverter, por exemplo, ajusta a velocidade do compressor de forma contínua, de acordo com a necessidade de refrigeração. Diferentemente das geladeiras convencionais, que ligam e desligam o compressor de forma brusca, o Inverter evita picos de resfriamento e mantém a temperatura mais uniforme. Esse funcionamento também contribui para reduzir o consumo de energia elétrica, sem comprometer o desempenho da geladeira.
Já os sensores digitais, presentes em alguns modelos, podem identificar variações internas de temperatura, corrigindo o termostato ou ajustando o compressor. Esses sensores também podem identificar a abertura da porta e emitir sinais sonoros após determinado tempo, que pode variar de dois a cinco minutos, dependendo do modelo da geladeira.
Dicas para organizar a geladeira e evitar abri-la à toa
Se você leva a sério a economia de energia, saiba que é possível reduzir o consumo de forma significativa apenas com o uso adequado do refrigerador. Um dos primeiros passos é organizar os alimentos corretamente. Manter itens semelhantes juntos, em locais de fácil acesso juntamente com prateleiras bem arrumadas, permite visualizar tudo com rapidez. Identificar os potes e embalagens com etiquetas também ajuda a economizar tempo na hora de procurar por um item específico.
Criar uma rotina familiar também é essencial. Pensar no que será retirado antes de abrir a porta e orientar as crianças a serem rápidas ao pegar algum produto são atitudes simples que fazem diferença. Outro hábito importante é guardar todas as compras de uma só vez ao chegar do supermercado ou feira.
Planejar as refeições com antecedência também ajuda a evitar que a porta fique aberta por muito tempo enquanto se procura ingredientes. Aproveitar bem os compartimentos disponíveis, como gavetas e prateleiras específicas para cada tipo de alimento, facilita ainda mais a organização e o uso consciente do eletrodoméstico. Também é importante não colocar alimentos muito quentes diretamente na geladeira. Comida quente eleva a temperatura interna do aparelho e faz o compressor trabalhar mais, gastando mais energia.
Outro ponto fundamental é a manutenção. As grades do refrigerador, localizadas geralmente na parte traseira ou inferior, devem ser limpas regularmente para garantir a eficiência energética. Já se o seu modelo de geladeira tiver sido fabricado antes de 2022, vale considerar a substituição. Geladeiras mais antigas, mesmo de uma porta só, podem consumir cerca de 150 kWh/mês, o que representa um custo aproximado de R$ 100 a R$ 150, dependendo da tarifa local.
Em contrapartida, geladeiras mais recentes com Selo Procel de Economia de Energia ou classificação A da Etiqueta de Conservação de Energia Elétrica (ENCE) do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), dependendo do modelo e capacidade, entre 35 até 50kWh/mês o que representa menos de R$ 40 na conta de luz. Em um ano, essa diferença pode significar uma economia de aproximadamente R$1.300 na fatura de energia. Ao adotar essas práticas, o usuário não apenas reduz o consumo de energia e prolonga a vida útil do eletrodoméstico, como também garante uma melhor conservação dos alimentos.
* Com informações da HubPages!.com, Cooling Post, Brastemp e Revista de Ciências Aplicadas
Fonte: https://www.techtudo.com.br