Por muito tempo, procurar atendimento médico era sinônimo de paciência – daquelas que exigem horas em filas, carona emprestada e, muitas vezes, a esperança adiada. Mas, em Maceió, há quem diga que esse cenário está mudando. Não por milagre, mas porque, para milhares de moradores, a saúde passou a chegar antes da dor piorar.
Desde 2022, mais de 1,5 milhão de atendimentos foram realizados pelo programa Saúde da Gente, que tem ido ao encontro de quem mais precisa. Não se trata apenas de montar tendas ou oferecer exames. A proposta é outra: enxergar as pessoas antes de suas doenças.
Foi assim com Mariana Santos, 28 anos, moradora do Eustáquio Gomes. Mãe de duas meninas, ela lembra como era difícil conseguir uma consulta. “Antes era difícil conseguir atendimento ou tinha que esperar muito”, diz. Quando engravidou da filha mais nova, encontrou no programa não apenas médicos, mas acolhimento. Fez o pré-natal completo, os exames e, hoje, segue com o acompanhamento para realizar a laqueadura. “Fui atendida pelo programa e depois encaminhada para o posto. Agora está tudo mais fácil.”
A experiência a surpreendeu. “Muita gente fala que posto é diferente de hospital particular. Mas eu não senti diferença nenhuma. Me trataram super bem”, conta, com a filha recém-nascida nos braços. Ela lembra que saiu da maternidade já com as vacinas da bebê em dia. “Pra mim, tudo isso é muito bom, porque sempre quis me operar e agora vou fazer a laqueadura de graça. É uma benção.”
Em outro canto da cidade, no Tabuleiro dos Martins, Maria Fernanda Ferreira, 44 anos, viveu dias de incerteza. O sangramento intenso a enfraquecia e nada nos exames anteriores explicava o que se passava. Diabética, ela temia que algo pior estivesse por trás dos sintomas. Até que encontrou, perto de casa, uma clínica do Saúde da Gente. Lá, foi ouvida com atenção – talvez, pela primeira vez.
“A médica me escutou direitinho, pediu outro ultrassom. Foi aí que descobriu: eu estava cheia de miomas”, relembra, emocionada. O medo da cirurgia veio junto com o alívio do diagnóstico. “Eu chorava de medo. Pensava nas minhas filhas.” Após remédios e preparo, passou pela cirurgia no Hospital da Cidade. “Foi um susto. Mas, graças a Deus, tudo correu bem. Hoje estou me recuperando. Melhor do que estava antes.”
Fernanda diz que a estrutura do programa evoluiu muito desde que começou. “Antes era porta a porta, agora tem clínica montada. Tem clínico, ginecologista, pediatra, exame. Melhorou muito. Salvou muita gente aqui. Me salvou também.”
Ela faz questão de falar com os vizinhos, recomendar, encorajar. Já encaminhou outras mulheres da comunidade para atendimento. “Hoje em dia, ninguém precisa ficar sofrendo. O Saúde da Gente tá aí pra ajudar. O atendimento é igual ao particular. Ou até melhor, porque eles ouvem a gente.”
No papel, o programa se divide em frentes: Saúde da Mulher, do Homem, da Criança, Saúde Mental, Animal e atuação nas Grotas. Na prática, ele se traduz em vidas reconfiguradas. Leva médicos, exames, vacinação e até cirurgias para quem, antes, precisava vencer obstáculos geográficos, financeiros e burocráticos para cuidar de si.
Mas talvez o verdadeiro impacto do Saúde da Gente esteja mesmo onde os dados não alcançam: na tranquilidade de uma mãe após o parto, na coragem de uma mulher após uma cirurgia, no sentimento de ser vista – finalmente – como alguém que importa. Como alguém que merece saúde.