Quando a conta chega: tarifaço de Trump muda rota da economia brasileira

De uma hora para outra, o caminho de boa parte da produção brasileira para os Estados Unidos ficou mais caro — bem mais caro. O presidente Donald Trump decidiu impor tarifas de 50% sobre produtos que representam mais da metade das exportações do Brasil para lá. Na lista estão café, carnes, frutas, peixes, máquinas e outros itens que movimentam bilhões de dólares por ano.

O resultado imediato? Um efeito dominó: aquilo que não conseguir atravessar a fronteira americana vai ficar por aqui. E quando sobra produto no mercado interno, o preço tende a cair.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, diz que a mudança já aparece no bolso do consumidor: “A questão de frutas e peixes, esses sim vão tentar colocar o máximo no mercado doméstico e a gente já vê relatos de preços menores. Isso realmente a gente deve sentir. Ovos também devem ficar um pouco mais baratos”.

2025 com preços mais baixos… mas até quando?

Por enquanto, o cenário parece até favorável para quem compra. Frutas como manga e uva estão mais baratas, e até a tilápia — peixe com grande dependência do mercado americano — já começa a dar sinais de queda de preço, aponta Marcelo Boragini, da Davos Investimentos.

O economista André Perfeito lembra que o IPCA de julho já veio abaixo do esperado e que o tarifaço deve reforçar essa tendência: “Ainda não está computado a sobre oferta de alimentos derivada do tarifaço de Trump”.

Mas essa calmaria pode ser só um intervalo. Quando o preço despenca, o produtor vende menos, lucra menos e, no próximo ciclo, planta ou cria menos também. Aí, a oferta encolhe e os preços sobem de novo. “O prejuízo desse ano seja suficiente para que ele no ano que vem ainda assim segure tanto o pé no freio”, prevê Gustavo Cruz.

O Banco Central de olho

Com a Selic em 15% ao ano, o Banco Central mantém a pressão sobre os juros para segurar a inflação dentro da meta de 3% ao ano. A questão é se a queda nos preços provocada pelo tarifaço poderia acelerar cortes.

Para André Perfeito, há chance de o BC antecipar movimentos e encerrar 2025 com juros em 14,50%: “É provável que o mercado comece a considerar cortes de juros ainda este ano e de forma mais intensa”.

Boragini discorda e diz que é cedo para apostar nisso: “Tudo pode acontecer, mas não é o que prevemos”.

Por enquanto, a única certeza é que, entre prateleiras mais baratas e exportações mais difíceis, o tarifaço de Trump virou um fator decisivo no jogo da economia brasileira — e ninguém sabe exatamente como será o placar em 2026.

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