Em meio à escalada de tensão no Senado, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), endureceu o discurso contra a ala bolsonarista da oposição. Durante uma reunião com o colégio de líderes, realizada nesta quarta-feira (6/8) na Residência Oficial do Senado, Alcolumbre afirmou que não cederá a pressões políticas ou manobras de obstrução e anunciou medidas contra o grupo que vem ocupando o plenário em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A desocupação do local foi determinada para a próxima segunda-feira (11/8). Segundo Alcolumbre, caso os parlamentares que participam do ato não se retirem voluntariamente, medidas regimentais e até representações no Conselho de Ética poderão ser adotadas. “Se segunda-feira, quem se acorrentou na mesa do plenário ainda estiver no local, eu pessoalmente vou entrar com uma ação no conselho de ética contra esse parlamentar”, avisou o senador Cid Gomes (PSB-CE), fazendo referência ao senador Magno Malta (PL-ES).
Apesar das tentativas de negociação, o clima se mantém tenso. A oposição, que cobra o avanço de pautas como o impeachment do ministro Alexandre de Moraes (STF), viu suas demandas serem rechaçadas por Alcolumbre. O presidente do Senado reafirmou que o encaminhamento de pedidos de impeachment é uma prerrogativa exclusiva dele, e que qualquer decisão nesse sentido será tomada com base em critérios institucionais, não sob pressão.
“O presidente Davi deixou claro que acatar um pedido de impeachment é atribuição exclusiva dele. Ele fará isso dentro da conveniência e se tiver elementos. Nada é pautado na marra ou na chantagem e o presidente deixou claro que ele não irá se curvar”, disse o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), ao deixar o encontro.
Uma sessão virtual já foi convocada para esta quinta-feira (7/8), às 11h, com o objetivo de votar o projeto que isenta do Imposto de Renda os trabalhadores com renda de até dois salários mínimos. A ideia é contornar a obstrução imposta pela oposição, que tenta paralisar os trabalhos do Senado.
Parlamentares que participaram da reunião relataram, sob reserva, que os aliados de Bolsonaro se mantiveram em silêncio diante da postura firme adotada por Alcolumbre. Após o encontro com os líderes partidários, o presidente do Senado recebeu um grupo de oposicionistas, incluindo Flávio Bolsonaro (PL-RJ), mas reiterou que sua condução seguirá pautada pela autonomia da Presidência da Casa.
A crise escancarou o racha entre governo e oposição no Congresso e evidenciou o desgaste da articulação política no Senado. Congressistas classificaram a ocupação do plenário como um “sequestro” e prometeram reações mais duras caso a paralisação continue. O chamado “pacote da paz”, defendido por setores bolsonaristas, parece distante de sair do papel — pelo menos por ora.